terça-feira, 5 de julho de 2011

CONHECIMENTO DE DEUS PELA RAZÃO E PELA FÉ


Conhecimento de Deus pela Razão e pela Fé em Tomás de Aquino
Introdução
            A meu ver, as principais reflexões que S. Tomás faz sobre Deus são sobre: a demonstrabilidade, a essência e a semelhança entre a existência (o ser) e a essência de Deus.
            De certas coisas, sabemos de sua existência, contudo não se consegue demonstrar isso em sua essência. No caso das coisas criadas, consideremos, por exemplo: a existência do ar. Ninguém irá contra a afirmação de sua existência. Entretanto, alguns não conhecem a essência do ar. Contudo, ele existe independente de ter a sua essência conhecida. Neste exemplo, vê-se a existência do ar, devido as manifestações, efeitos, que ele ocasiona. Será que o mesmo raciocínio cabe para Deus?
            Para facilitar o estudo seguiremos a reflexão sobre Deus, tendo os seguintes sub-títulos: nem tudo que existe é demonstrável; igualdade do ser e sua existência; relação ontológica entre existência e essência.
Nem tudo que existe é demonstrável [1]
            Não discutiremos aqui se Deus existe ou não. Trabalharemos com a idéia de que Ele existe, para saber se esta existência nos é demonstrável pelo discurso de causa e efeito. Para que algo seja demonstrável, este algo precisa ser primeiramente definido. Porém: como é possível fazer demonstração de algo sem partir de uma definição deste algo? Demonstrar algo sem falar de sua essência que lhe é anterior a demonstração? Ora, bem sabemos que Deus é um ser incompreensível, e por conseguinte, indefinível. Portanto, se Deus é indefinível, incompreensível, também seria indemonstrável? Naturalmente, em Tomás nesse contexto, a palavra “demonstração” não tem o sentido de um teorema matemático, mas o de uma indicação de caminha, via...
            Ainda no âmbito das objeções - que como se sabe fazem parte do método da Suma - quando se quer demonstrar a existência de algo por seus efeitos é necessário fazer uma ligação entre ambos. Se se trata por exemplo, de um pai e um filho, demonstra-se que o primeiro existe e gerou o segundo, que também existe etc. Eles estão no mesmo gênero e é possível fazer o enlace. No caso de Deus, porém, a relação causa-efeito é problemática, pois são de ordens diferentes: um é finito e o outro infinito. Falta a proporção, a ligação entre o finito como efeito, para com o infinito como causa (que transcende o primeiro).
            Que Deus é invisível não se tem dúvida: Ele só é conhecido segundo as coisas visíveis, que por Ele foram feitas. Em outras palavras, quando não existia coisa criada, visível, não se poderia ter conhecimento da existência de algo superior, ou seja do criador (que é invisível) e que pôde fazer o ainda não visível, tornar-se um ser visível. E antes deste visível ser feito, não se conhecia absolutamente nada. Foi pelas coisas feitas, criadas, que Ele começou a ser conhecido, demonstrável, conforme nos lembra S Paulo na carta aos Romanos “ Sua realidade invisível (...) tornou-se inteligível, desde a criação do mundo, através das criaturas” (Rm 1, 20).
             Para a demonstração da existência de Deus, seria preciso assentar o que se entende por Deus. A rigor, não nos é possível uma definição que compreenda Deus, o que tronaria impossível a demonstração de sua existência, a menos que nos limitemos precisamente a Deus concebido em relação às coisas que por Ele foram feitas.
            Assim, a existência de Deus pode ser conhecida mediante a razão natural, sem ser baseada em nenhum artigo de fé. E na resposta às objeções é mister lembrar que os nomes dados a Deus, são devidos às manifestações, ou efeitos, que Ele causa. Ao demonstrar que o efeito é efeito, demonstra-se que ele depende da “causa primeira”, a saber, Deus. Embora sejam de gênero diferente, o efeito sempre irá ter uma causa, caso contrário deixará de ser efeito. Necessariamente há esta ligação entre um e outro, como por exemplo, o caso da vida humana: ela tem sua origem (causa) em algo capaz de causá-la e neste caso a origem está em Deus que é vida (Jo 10, 10b) e Ele a dá ao ser humano. Portanto, o efeito possui a vida porque a sua causa é portadora de vida e capaz de dá-la ao ser humano. Quando o efeito não é proporcionado à causa, ele não propiciará um conhecimento perfeito desta causa. No caso de Deus, por quaisquer efeitos, pode-se demonstrar a existência de Deus, que é a causa, mesmo que por este não seja possível o conhecimento perfeito de Deus na sua essência.
            Não pretendemos aqui discorrer tematicamente sobre as cinco vias de Tomás, mas somente sobre sua estrutura formal. Assim, se a causa é inacessível (diretamente), os efeitos, contudo, são perfeitamente acessíveis. E quando se levanta a objeção de que Deus (como causa da existência de todas as pessoas e coisas) sendo infinitamente incompreensível, não seria demonstrável (e S. João Damasceno está certo, ao afirmar não ser possível saber o que de fato Deus é, na sua essência), a resposta e que o que e demonstrável não é Deus em si. Pois não é possível demonstrar a totalidade de um ser infinitamente incompreensível, partindo de demonstrações finitas e compreensíveis; porque se Ele o fosse, tornar-se-ia finito. O que é demonstrável, neste caso, diz respeito aos efeitos de Deus e quanto a isso, S. Tomás afirma que embora “não nos sendo evidente, a evidência de Deus, Ele é demonstrável pelos efeitos que conhecemos”.
            O que é evidente não necessita de demonstração, porque já é óbvio. Se, por exemplo, hoje está chovendo, não necessito demonstrar esta verdade ao colega que está a meu lado, porque este fenômeno da natureza nos é evidente. Entretanto, é necessário demonstrar que em um determinado fio de energia passa uma corrente elétrica, porque não é óbvia esta verdade. Tudo o que se demonstra é demonstrável justamente devido a sua não-evidência, pois se fosse evidente seria desnecessário fazer sua demonstração. Assim, cabe falar em demonstração da existência de Deus.
            Também é verdade que não necessitamos conhecer Deus na sua essência, para sabermos que sua existência é demonstrável. Assim como sabemos do sol por meio de seus efeitos, sua luz e calor; também Deus é demonstrável pelos efeitos que Ele causa.  
            Deus é o princípio de tudo e talvez S. João Damasceno estivesse correto, quanto a afirmação da não demonstração de Deus, caso não houvesse criação. Só que a partir do momento em que Deus criou algo, este mesmo Deus começou a ser demonstrável.
            Quanto à objeção fundamentada no fato de ser contraditório dar atributos a deus, que é infinito, a partir das criaturas, finitas, convém lembrar que estes atributos dizem respeito aos efeitos: afirma-se que elas têm sua origem em Deus, e não se afirma que elas são Deus. Não é dado nenhum atributo finito ao ser infinito, apenas é afirmado que o finito teve sua origem primeira no ser infinito.
Igualdade do seu ser e sua essência [2]
             Todo efeito assimila-se a sua causa, pois é dela que ele provém. Ora, toda a criação - e o ser humano - é efeito de Deus e provém de Deus. Ao analisarmos esta questão, percebemos o seguinte: ou a natureza deste ser não se assimila à de Deus, porque a natureza do primeiro é a humanidade, enquanto que a do segundo é a divindade, e deste modo seria negada a primeira afirmação sobre a assimilação entre causa e efeito; ou a natureza do primeiro não é a humanidade e nem a do segundo a divindade; então se isto for verdade, qual será a natureza do ser humano e qual será a natureza de Deus?
             Diante deste dilema, S. Tomás lembra que os efeitos provocados por Deus não o imitam na totalidade da perfeição, e sim na medida do possível. O ser humano foi criado semelhante a Deus, não igual (ver Gn 1); pois se assim o fosse, ele também seria Deus, no entanto, é tido como animal racional e não como um outro Deus. Logo, a natureza de ambos têm que ser diferente, porque é ela quem diferencia Deus como Deus e o ser humano como ser humano. Deus é simples e uno. E se ele é uno, não pode ser múltiplo, e sim ser representado pelo múltiplo (é o que acontece a respeito da criação). Isto não supõe que a natureza do primeiro seja assimilada totalmente pela natureza do segundo.

            A divindade ou deidade é a própria natureza de Deus, e ela está para ele tal qual a humanidade está para o ser humano (o que não nega a afirmação anterior, dele como animal racional). Se Deus se distinguisse da deidade, ter-se-ia uma relação semelhante à que existe entre a humanidade e a pessoa humana, e portanto poder-se-ia haver muitos deuses como há muitos homens e mulheres. Entretanto, há um só Deus, como há uma só divindade. Logo, Deus e divindade se identificam em seu ser.
            A vida é o que faz este ser vivente ser possuidor desta natureza, portanto, a vida é intrínseca tanto a uma natureza quanto a outra. Desta forma, S. Tomás demonstra a ligação que há entre a natureza de Deus (causa de tudo) e a natureza do ser humano (efeito dele), porque está escrito que Deus é vida (Jo 14,6). Se a vida está para o ser humano como a divindade está para Deus, então assim como a pessoa humana é a própria humanidade, Deus é a própria divindade, ou deidade.
            Continuando a exposição, é necessário ressaltar “que nos seres compostos de matéria e forma, necessariamente diferem entre si a natureza, essência e o suposto” (S.T. Q.2, A.2). S. Tomás entende natureza e essência como sendo aquilo que constitui a definição da coisa. Seria aquilo sem o qual a coisa deixaria de ser ela mesma; essência de algo é o que define o seu ser necessário.
             A natureza ou essência das coisas materiais não compreende somente a forma, mas também a matéria. Como no caso do homem. Deste modo se diferencia o ser de Deus e o ser do homem, porque o ser do segundo exigiu a intervenção do ser do primeiro para poder existir, enquanto o primeiro (Deus) não exigiu intervenção nenhuma para vir a existir; conforme se lê em Jo 1,3: “ Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito”. Somente em Deus é que a natureza/essência, não é o resultado de uma causa, e por conseguinte, é igual a Deus, pois ele é a própria essência.
            Normalmente ao analisarmos um determinado objeto, nós o dividimos em matéria e forma, essência, acidente... Esta é a regra. Para concebermos bem o objeto, tem-se que dissecá-lo em todas as possibilidades. Citando o ser humano, ele pode ser dissecado em matéria e forma, como também, pode ser ao tocante à essência e ao acidente. A essência de todo e qualquer pessoa humana está no ser humano, a humanidade é a sua essência. A sua essência não está em si mesmo, e sim no Homem, porque nenhuma essência pode estar em si mesma, a essência faz parte dele, repito: faz parte.
            O mesmo raciocínio vale para analisarmos qualquer outro ser que não seja Deus. Deus foge à regra: esta foi feita pelo ser humano e só possui validade para análises de outro ser também criado. Deus não pode ser submetido a uma análise determinada pela divisão entre matéria e forma nem por essência e acidente, porque Ele não possui subdivisões. Ele não só é necessário a Si próprio, como também é a sua própria essência. Deus nunca sofreu nem sofrerá acidentes. Ele não tem essência, Ele é em si mesmo, ou seja, a essência (aquilo que se chama de essência nos outros seres) é em Deus seu próprio ser, conforme Ele mesmo disse a Moisés: “Sou aquele que é” (Ex 3,14).
            Afirmando que nele não há diversidade, afirma-se a fé monoteísta, e isto é elementar porque é a variedade da divindade é o que dá base ao politeísmo (naturalmente, a Trindade, não é a afirmação de três deuses...).
 Relação ontológica entre existência e essência [3]
            S. Tomás, ao tratar deste tema, depara-se com um problema. A Sagrada Escritura diz que “no princípio era o Verbo (...) e o Verbo era Deus” (Jo 1,1). ou seja, a sua existência não é um acidente, ele sempre existiu. Não foi em um determinado momento em que a potência de Deus tornou-se ato, aliás, ele não tem potência em relação à nada. Ele é ato puro. Ele subsiste todo o tempo e para alem do tempo... Partindo desta afirmação, conclui-se que o ser de Deus é a sua essência e o que subsiste nEle é Seu ser.
            A essência sempre traz limitação ao ser: definir é “dare finem”, dar fins, limites, dizer onde termina: de-limitar, de-terminar. Deus não é isto ou aquilo; Deus é. Primeiro: tudo o que existe num ser e que não faz parte de sua essência, ou têm sua origem fundamentada na própria essência deste ser; ou têm sua origem fundamentada em um fator externo deste mesmo ser, de modo que a existência seria diferente da essência. Nenhum ser finito seria suficiente para ser causa do ser infinito, ou seja, a existência de Deus não provém de nenhum fator externo a ele próprio. Ora, também é impossível que a existência dele seja causada pela sua própria essência.
            Outro argumento. Deus não tem potência para nada, por exemplo, ele não pôde ter sido diferente do que Ele é hoje e nem, no futuro, ele será diferente do que é hoje. Assim sendo, Ele não pôde ter sofrido qualquer efeito para poder existir, mesmo que este seja da sua própria essência; donde se resulta a igualdade tanto da essência quanto da existência em Deus.
            Sobre as objeções levantadas anteriormente, S. Tomás as responde de modo singular. Quanto à primeira objeção, que expressa a susceptividade (onde nada mais poderia ser acrescentado ao ser divino), convém lembrar que não foi Deus quem sofreu novos adicionamentos em seu ser e sim, o ser humano quem evolui em seu entendimento sobre Deus.
Assim, para S. Tomás, não se pode separar em Deus a existência do ser.
Conclusão
            Desde o início até o final deste trabalho, procurei mostrar a relação que S. Tomás faz entre a razão e a fé. Meu intuito era deixar claro que a razão tem por dever, demonstrar os “preâmbulos da fé”, como também esclarecer e defender o pensamento cristão, de modo que a razão e a fé sejam tidas como distintas uma da outra, mas não opostas.
            Partindo da diferença entre as ciências originadas na luz racional e a doutrina sagrada, S. Tomás mostra que em Deus (e somente nEle) a essência e a existência se identificam, porque ele não só é a sua essência mas também, o seu próprio ser.
            A existência de Deus se dá a conhecer quando houve a composição existencial de outros (a criação). De modo que conhecer a essência em si, o ser humano só conhece das coisas criadas, e não do que é incriado.
            Procuramos brevemente mostrar que o discurso de S. Tomás é sobre a existência. Pois para ele a existência de Deus é antes que a essência, porque é a existência quem faz o ser tornar-se conhecido. É através da existência que o ser humano conseguirá alcançar analogicamente, a essência do criador; ou seja, é como se ele tivesse um princípio e fosse analisá-lo claramente através de uma exposição da existência.
Referências Bibliográficas
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AQUINO, Tomás. Seleção de Textos, 2ª ed. Trad. De Luíz João Baraúna, São Paulo, Editora Abril Cultural, 1979 (Col. Os pensadores).
AQUINO, Tomás, Suma Teológica, 2ª ed. Vol. L, Trad. De Alexandre Correia. Caxias do sul, Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Universidade de Caxias do Sul, Livraria Sutina Editora, 1980
Bíblia Sagrada, 62ª ed. Trad. Monges de Maredsons, São Paulo, Editora “ Ave Maria”, 1988.
BOEHNER, Phiotetheus; Gilson, Étienne. História da Filosofia Cristã, 2ª ed. Trad. de Raimundo Vier, Petrópolis, Vozes, 1982.
CAMPOS, Fernando Arruda. Tomismo Hoje, Edições Loyola, 1989.
CHATELET, François. História da Filosofia, Idéias, doutrinas, A Filosofia Medieval, do século I ao XV. Rio de Janeiro, Zahar, 1974. Enciclopédia Mirador internacional, Publicações Ltda. São Paulo – Rio de janeiro – Brasil.
SERTILLANGES, O. P. As Grandes Teses da Filosofia Tomista. Trad. L.G. Ferreira da silva, Portugal, Livraria Cruz Braga,1951.
THONNARD,F.J. Compêndio de história da filosofia, Trad. de Dr. Valente Pombo, editora Herder, são Paulo, 1968.
VAZ, Henrique C. de Lima. Escritos de filosofia I, Problemas de Fronteira, 3ª ed. São Paulo, Loyola, 1986.


ÉTICA DE TOMÁS DE AQUINO

O SISTEMA ÉTICO DE TOMÁS DE AQUINO
            Como vem observar o sistema ético de Tomás de Aquino, este estruturou em torno do conceito de virtude, como sendo um caminho que está direcionado ao rumo da auto realização que embora esteja implicada com a felicidade que por fim, trata do conceito da lei natural de Deus, igualmente a Abelardo, Tomás, deu grane importância ao papel da intensão no sistema ético. Tomás deu mais ênfase ao conceito de intensão dentro de uma perspectiva muito mais rica da natureza humana na qual se vale da avaliação dada por Aristóteles na ética Nicômaco, bem como aprimorou.
            Aristóteles no processo de contribuição de sua estrutura ética utilizou-se de dois conceitos chaves: voluntariedade e proposito. Porém afirma que algo é voluntário se é original do agente livre de compulsão ou do erro, e já o proposito é escolhido como parte de um plano global de vida. Para Aristóteles esse primeiro conceito, ou seja, voluntariedade era demasiadamente amplo enquanto o de proposito é demasiadamente estrito para demarcarem a maioria das escolhas morais da vida cotidiana. Já Tomás aprisionam os conceitos de Aristóteles e introduzia o conceito de intenção para fazer o equilíbrio entre ambos conceitos. Ele explica que o conceito de intenção está relacionado entre três tipos de ações: fim em si mesmo, meio para fins e ações inevitavelmente decorrentes das outras duas. Pois a intenção não é tão ampla como a voluntariedade se torna mais ampla que tem o proposito de formar o equilíbrio .
            Este doutor medieval dividiu as ações humana entre três categorias na quais alguns dos tipos de ações humanas são boas, outras são maus e outras ainda são indiferente. Mas o que se foi analisado é que uma má intenção pode arruinar um bom ato como, por exemplo, dar esmola por ostensão. Tomás contraria Aberlado quando entende que uma boa intenção não pode ser plenamente genuína salvo se for posta em execução quando se tiver oportunidade. Pois afirma que o ato de matar por autodefesa pode ser analisado entre dois efeitos: a preservação da própria vida e a morte do seu agressor. Já nesse caso o uso da violência é permitido, pois está relacionado em sua defesa e permite que o mesmo resulte na morte do agressor. Em outra vertente jamais e legal um cidadão resultar na morte de seu agressor. Tomás acredita igual a Agostinho quando o ser humano encontra sua realização no entendimento e na contemplação de Deus, contudo, a felicidade humana não está relacionada aos prazeres mundano. Afirma que a felicidade humana está vinculada as atividades sobre-humanas, ou seja, no divino, e para atingir precisa da assistência sobrenatural da graça divina. Já que a felicidade é tida como uma meta sobre natural os seres humanos precisam além das virtudes morais como a coragem e temperança e além das virtudes intelectuais como o entendimento e a sabedoria das virtudes teológicas da fé. Como vem observar Tomás, tenta e consegue transformar a ética aristotélica com embasamento bíblico e teológico cristã.
TOMÁS DE AQUINO COMO MORALISTA
            Tomás pensa como Agostinho, no sentido ético quando diz que a matar pessoas nem sempre é errado, mas estabelece princípios para julgar essa questão. Em torno de uma guerra, ele afirma que “tem que haver uma coisa justa para tal, ou seja, o inimigo tem que ser culpado e finalmente a intenção dos que fazem a guerra tem que ser boa, isto é, eles têm que tencionar ou promover o bem ou evitar o mal.
            Nessa concepção moralista Tomás é muito influenciado pela concepção biológica aristotélica. Nessa visão ele (Tomas) acredita que “as fêmeas se limita a prover pelos machos”. Podemos perceber que o mesmo faz a submissão da mulher ao homem é uma visão de natureza bíblica que utilizou para justificar subordinação da mulher na sociedade cristã. 
            Mesmo sendo uns dos doutores da Igreja Católica, tendo escrito num período medieval, podemos perceber que sua discursão não se encontra desatualizada, pois o mesmo já se preocupava com o aborto em um sentido de gravidez, porém ele reprova a masturbação, constitui um crime pelo fato de ser a destruição do princípio ativo da vida humana, ou seja, como se fosse à potência de um beber humano. Por esses motivos ele reprova tanto o aborto como a masturbação, pois é um estágio anterior à infusão da alma humana no feto, então o aborto é errado pela mesma razão que é a masturbação. Contudo, o pensamento desse doutor sobre a questão do aborto veio a influenciar as modernas opiniões que coloca o aborto no mesmo plano da mora, ou seja, é observado como sendo antiético, antimoral, etc. 
            Como vem observar Tomás introduz uma visão quase negativa do lucro, esse só se torna positivo quando se faz um bom uso do lucro obtido. Ele oferece varias regras para se ter uma vida moral, no que se diz obter propriedade e de ganhar dinheiro. A primeira regra: confirma que “é pecado acumular riqueza mais do que necessário para se sustentar”. A segunda regra diz: “que se algum tem dinheiro de sobra tem o dever (como uma questão de justiça natural e não como benevolência) de dar esmola aos necessitados”. E já a terceira regra diz: “se deixar de avaliar as necessidades dos pobres estes podem em caso de necessidade premente legitimamente tomar tua propriedade sem tua permissão em caso de necessidade todas as coisas são comuns”. O que advertido nesse processo moral de Tomás e que ele se baseia em princípios do antigo testamento e nos gregos especialmente em Aristóteles.
KENNY, Anthony. ética. Filosofia Medieval: uma nova historia da filosofia medieval, São Paulo: Loyola, 2009 pp. 297-301.

domingo, 26 de junho de 2011

METAFÍSICA

Este filósofo, pertencente à ordem dos dominicanos, esforçou-se para, concordar a fé e a razão; onde a primeira trás verdades inacessíveis a razão, que a ultima tem condições de confrontar sem, contudo demonstrar. Ou seja, ele pretende cristianizar o pensamento aristotélico, esforçando-se por unificar os temas cristãos aos conceitos de Aristóteles. Pois é, com efeito, no século precedente, ou séc. XII, que o ocidente cristão redescobrira a física e a lógica de Aristóteles, retraduzidas do árabe para o latim. Esse novo conhecimento desempenha um excelente trabalho para o séc. XIII. Demonstrando uma fidelidade a Aristóteles, Tomás distingue a matéria, isto é, as diversas potências ou potencialidades ainda não atualizadas. E a forma, o que, no objeto, organiza a matéria e lhe confere sua verdadeira essência e existência, e é graças à forma que a matéria de cada coisa se encaminha para sua existência própria. No entanto, São Tomás ultrapassa o plano puramente aristotélico e coloca a existência, ato em virtude do qual uma realidade É. Em Deus, a existência e a essência confundem-se. Ao contrario que, essência e existência distinguem-se nas diversas substancias particulares. No que diz respeito a moral de são Tomás é igualmente muito próximo da ética de Aristóteles. Em sua ética desenha-se a figura do sábio, ele designa aquele cuja atenção se volta para a causa suprema do universo, a saber, Deus. Assim a sabedoria representa o conhecimento das realidades divinas. A felicidade última do homem consiste em contemplar o divino e a verdade; a contemplação do verdadeiro é nosso objetivo último e eleva-nos a Deus.
            São Tomás de Aquino construiu um rigoroso sistema filosófico, suas principais idéias eram “a razão deve servir a fé”. Nós devemos buscar entender com a razão os mistérios, mas nunca opor “razão e fé”, pois a fé ainda suplanta a razão. É dentro destas circunstâncias que ele fundamenta e estabelece as “provas da existência de Deus”. E é baseado do pensamento aristotélico que ele busca uma total fundamentação para sua metafísica, remetendo-se à famosa frase da metafísica de Aristóteles, ”por natureza, todas as pessoas anseiam pelo saber”, este anseio afirma o desejo por algo que ainda não se tem, é também é “natural”, ou seja, estar enraizada na natureza do ser humano. Por ser, um ser humano dotado de sentidos, ele anseia pelo  conhecimento como sendo seu objetivo. É dentro desta perspectiva que o “objetivo último do homem” é a felicidade ou o bem maior, e este fim último do ser humano estar em conhecer a Deus. Por isso Tomás escreve cinco provas da existência de Deus, de uma maneira idealista, isto é, partido das idéias para a realidade, baseado - se no conceito de causalidade que perpassa pelas cinco teses. Para são Tomás Deus é o primeiro, é o principio em toda ordem metafísica, é o que dar toda movimentação, partindo dos efeitos e do mundo, como ponto de partida. Ele começa seu pensamento correspondendo diretamente ao pensamento aristotélico entre ato e potência. Porém mesmo sendo o fundamento de tudo, Deus deve ser alcançado por caminhos “a posteriori” isto é partindo do efeito para a causa. O caminho da mutação (ato e potência) tudo o que muda é movido por outros. Mover é levar da potência ao ato.

As provas da existência de deus em Tomás de Aquino
Para Tomás, Deus é o primeiro na ordem antológica, mas não na ordem psicológica. É neste sentido Tomás, começa falando do caminho da mutação, exemplificando a idéia de movimento, constituindo a primeira prova é a de que todos os seres estão inseridos nesse processo de ato e potência. Pois, tudo aquilo que movimenta é movido por outros e assim por diante, portanto, chega numa causa de movimento que é inacusável, que é Deus.
A segunda prova, parte da natureza da causa eficiente. Onde tudo que existe se origina de algo, não podemos conceber como algo sendo causa eficiente dela mesma, pois ela seria anterior a se próprio. Não é possível ir ao infinito na série das causas eficientes, porque em todas as causas eficientes ordenadas a primeira é a causa das causas intermediária e as intermediárias são as causas das ultimas, podendo as causas intermediárias ser várias ou uma só. Levanto essa idéia de causalidade ao infinito chegaremos a uma causa primeira que é inacusável, logo essa causa é Deus.
A terceira provoca deriva da possibilidade, desenvolvida da forma de como exploremos. Todos os seres estão na dimensão da possibilidade podendo ser ou não, se ele pode ser ou não é porque nem sempre eles existiram, então existe um criador de tudo logo é Deus e Ele existe.
A quarta prova da existência de Deus estar nos graus de perfeição, pois entre os entes, há os mais ou menos bons, o mais ou menos verdadeiros , e o mais ou menos nobres e os semelhantes. Porém existe instância maior que é a própria bondade, beleza e a justiça em si mesmo, esta instância maior serve como parâmetro para (perfeição moral), por isso, deve haver algo que para todos os entes, é a causa do seu ser, de sua bondade e de toda outra perfeição logo é Deus.
A quinta prova deriva do governo de mundo, ou seja, todos os seres tem uma finalidade ou operam em vista de um fim. Onde nós podemos ver que as coisas que carecem de conhecimento, como corpos naturais, agem em vista de um fim. Esses seres chegam a sua finalidade por intenção e os seres não possuem conhecimento absoluto Deus é o que ordena que dar fim nas coisas, ou seja, dar uma finalidade para tudo que existe na terra.


 

Biografia de Tomás de Aquino

   Tomás nasceu em Aquino em 1221. Filho de Landolfo e de Teodora. Como vem observar foi um dos verdadeiros gênios metafísico e um dos maiores pensadores medievais, do cristianismo e de todos os tempos. Tomás de Aquino teve sua educação primária na abadia de Montecassino, para onde foi levado com esperança de contribuir para o brilho do sobre nome da família. Mas, devido às continuas guerras entre o Papa e o Imperador, a abadia foi logo reduzida a estado de abandono desolador e de triste decadência.
            Por esses motivos, Tomás foi obrigado prosseguir seus estudos em Nápoles, na universidade fundada por Federico II. Foi nesse período que entrou em contato com as ordens dominicanas, dentre os quais se dedicou ao estudo universitário. Decidiu entrar numa nova forma religiosa, mas aberta para novas instâncias sociais, envolvendo no debate cultural e livre de interesses mundanos. Sua decisão foi firme e apesar da oposição da família, expressas por várias formas tornou se irrevogável. Discípulo de Alberto Magno mais ou menos em 1248 a 1252, na Colônia, mas mostrou-se seu talento especulativo. Foi convidado pelo seu mestre para expor seu ponto de vista sobre uma quaestio que estava sendo muito debatida, pois o mesmo (Tomás) era chamado de “boi mudo” devido seu comportamento silencioso, expôs o problema com tanta profundidade e clareza que levou Alberto a exclamar: “este moço que nós chamamos de ‘boi mudo” mugirá tão forte que fará ouvir o mundo inteiro.
            Depois que Tomás recebeu vários títulos entre este o de magister em teologia, ele andou peregrinamente como era de costumem dos mestres da ordem dominicana pelas maiores universidade da Europa. Nesse período foi chamado para combater os antiaristotélicos e os averroístas pela segunda vez em Paris. Nesse momento preparou o esboço de sua obra maior, a Summa Teológica, que foi iniciado em Roma e Viterbo. Devido ao seu mau estado de saúde falou para seu fiel amigo e secretário Reginaldo de Piperne, que o exortava a terminar sua obra.
            Alcançou o ápice de seu pensamento baseando-se nas filosofias aristotélicas, mas ao mesmo tempo criou a sua própria filosofia, sendo original na sua maneira de pensar e de produzir a mesma (sua filosofia) com isso, fez a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo. Fundou uma teologia centrada na razão humana que tem por base um resumo definitivo de fé e razão, que estão unidos em comum rumo a Deus. Usou alguns argumentos de Aristóteles para provar a existência do criador e consequentemente fundamentar o cristianismo. E concluiu que fé e razão não estão em contradição.